Poucos entendem o prazer da paquera

Já chegavam perguntando, afoitos:
- E aí, catou? - os olhos arregalados - Hã, hã, fala aí!
- Oloco! - era o que eu conseguia responder nesse meio segundo que me davam pra pensar.

Já chegavam perguntando, afoitos:
- E aí, catou? - os olhos arregalados - Hã, hã, fala aí!
Eu dava risada e um sorriso disfarçado nela. E eles, desapontados:
- Ahh, não acredito!


O erro está na pergunta! Como assim "catei"? Claro que eu sei o que isso significa. Eles querem saber se eu beijei, agarrei, apalpei... fazem disso o clímax, o ponto alto de tudo que acontece entre duas pessoas que têm interesse uma pela outra. E não só eles, mas também as pessoas que me interessam, às vezes. O que me desanima muito.

A intensidade dos beijos, abraços e carinhos é definida pela paquera, pelo sorriso maroto que escapou depois daquela trombada dos olhares, pelo comentário que incita, pelas conversas ligeiramente subjetivas, e tudo isso regado de olhares e sorrisos, sinais do corpo de que aquilo está agradando, está provocando...

E mesmo assim a maioria das pessoas dá valor apenas ao fim de tudo isso. Não se importam com tudo o que levou a essa vontade de beijar e assim já começam algo vazio, sem sal nenhum.

- E aí? - É o que perguntam agora.
- Conversamos sobre música, fizemos piadas um do outro, levei alguns tapinhas... aí peguei em sua mão para que não mais me batesse e ela, tímida, deu um sorriso e olhou pro chão. Ficamos de mãos dadas alguns segundos sem nada dizer, apenas sorrindo e olhando um ao outro... com as mãos se acariciando ligeira e timidamente.

Pois é isso o que importa, esses detalhes que deixam claro o desejo, a vontade. Aí o beijo é beijo, senão é "catar". E "catar" é beijar por beijar, sem se interessar pelo dono daquele beijo, sem saber se aquele beijo tem por trás o gosto do sorriso verdadeiro.

Paquerar. O termo parece antiquado e talvez não seja à toa. É cada vez mais difícil encontrar pessoas que gostam e que saibam paquerar, que conseguem demonstrar interesse sem agarrar ou abrir as pernas e que se interessam por quem é assim.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto... ótimo mesmo!!!
Pode se sentir envaidecido, ok?! Quando você quer, você escreve como ninguém!!

Adorei!

Anônimo disse...

Na verdade... eu continuo com o mesmo discurso:

"E a rosca vai queimando..."

Anônimo disse...

Realmente, paquerar está em extinção. E como já disseram vc qdo quer escreve como ngm. Te admiro.

Unknown disse...

É, o romantismo quase não existe mais, a graça da "paquera" como você mesmo disse é antiquado, mas com certeza é a essencia que falta para que um relacionamento comece para durar!
Beijos, ótimo texto!! =)